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Estamos guardando tudo, mas lembrando de menos: o risco de perder memórias na era digital
Nunca produzimos tantas fotos e registros — e nunca esquecemos tanto. O excesso de arquivos também apaga histórias
Vivemos no tempo em que nada mais parece se perder: tudo vira foto, print, vídeo, arquivo, backup. Mas quanto mais acumulamos, menos acessamos. Estamos registrando o mundo inteiro — e esquecendo de olhar para ele.
A abundância digital criou um novo tipo de esquecimento: o apagamento pelo excesso. Milhares de arquivos sem nome, pastas que ninguém revisita, fotos que nunca mais serão vistas. Guardamos muito, mas preservamos pouco.
A memória, por natureza, é seletiva. A tecnologia não é. Ela arquiva tudo — inclusive o que não importa. E quando tudo importa, nada importa de verdade.
Guardar é diferente de preservar. Armazenamento é técnico. Memória é afetiva. Como alerta Victor Escobar, diretor da Caixa de Memórias, “a desorganização também apaga histórias. Às vezes não perdemos porque não guardamos — perdemos porque guardamos sem cuidado”.
Talvez o maior desafio do futuro não seja salvar arquivos, mas salvar sentido. Porque memória não está no dado — está no significado.